sábado, janeiro 31, 2009

Priceless - uma polémica.

Aproveito o incentivo dos comentários do Miguel Carvalho a “Priceless, nem tudo tem um preço” para escrever um pouco mais sobre "Priceless - On Knowing the Price of Everything and the Value of Nothing"
Este livro analisa especificamente a problemática da aplicação da análise custo benefício à avaliação das leis e regulamentos que visam proteger a saúde, a segurança e o ambiente. Este ponto é muito importante. Não se trata de comparar duas opções de investimento diferentes, por exemplo. Por outro lado, é claro que nem todos os economistas seguem os mesmos métodos. Um dos autores do livro é economista, Frank Ackerman.

Passando aos comentários.

A Economia – seja a corrente neoclássica ou keynesiana - também é normativa Os pressupostos que conduzem a uma ou a outra têm subjacentes juízos de valor sobre o que se deve ou não fazer.

Infelizmente a generalidade dos economistas valoriza pouco – ou simplesmente desconhece - o contexto histórico em que muitas teorias emergem, e ganham um estatuto de verdade científica. Por exemplo, a teoria das vantagens comparativas, (supostamente “economia positiva”) de David Ricardo, que alguns consideram uma das mais brilhantes de sempre da teoria económica : “deepest and most beautiful result in all of economics” (citado por Daly) surgiu num determinado contexto (geo)político-económico. O próprio Ricardo era, neste caso, um político no sentido usual do termo, para além de ser um investidor. Além disso, era também nacionalista. A teoria que desenvolveu – aliás baseada num exemplo envolvendo Portugal – sendo brilhante, assentava sobre uma hipótese muito conveniente. Esta teoria foi muito importante para acabar com as “Corn Laws.”
"The anti-Corn Law campaign was crucially helped by the economist, politician and stock-market player, David Ricardo. Ricardo came up with the theory of comparative advantage that still forms the core of free trade theory» In “Bad Samaritans – the guilty secrets of rich nations & the threat to global prosperity"

”Neoclassical economics, with its subjectivist theory of value”
«Since the classical economists were nationalists [...]»- Herman Daly

Não se trata apenas de serem maus economistas. Os exemplos dados em “Priceless” (três significativos podem ser lidos online) não são excepções. Nesses exemplos, da vida real, demonstra-se um enviesamento sistemático para relevar os custos e subestimar os benefícios. No debate sobre os impactos económicos das alterações climáticas, economistas influentes revelam uma incompreensão impressionante sobre o tema, aplicando este tipo de análise que ignora os fundamentos da ciência. William Nordhaus (não se trata de um economista qualquer; é co-autor com Samuelson de um dos mais importantes manuais de economia) é um deles, como é o influente Larry Summers, ex-presidente de Harvard e actual presidente do Conselho Económico Nacional de Obama.
"William Nordhaus, who said that global warming would have only a small effect on the U.S. economy because basically only agriculture is sensitive to climate, and agriculture is only 3% of total value added, of gross national product.» in “Beyond Growth”
Não é preciso ser-se muito instruído para perceber o absurdo disto. Joe Romm (físico) chama a este tipo de economistas, “Voodoo Economists”, e com razão. Lomborg é outro que, não sendo economista (embora seja frequentemente referido como tal) recorre sempre a uma série deles para justificar ACB absurdamente reducionistas.

Felizmente, há excepções. Recentemente, um economista de Harvard veio admitir a incapacidade das ACB para avaliar o problema:

"Weitzman’s bottom line: If you don’t factor in plausible extreme-impact scenarios — and the vast majority of economic analyses don’t (this means you, William Nordhaus and you, too, Richard Tol — your analysis is worse than useless. It is delusional. Pretty strong stuff for a Harvard economist!”
As escolhas políticas são precisamente aquelas que não devem recorrer a análises de custo-benefício simplistas. Estas resultam, em regra, de comparações entre valores monetários. As escolhas políticas devem ter em consideração um espectro mais largo. Por isso é que são politicas! Como referem os autores de "Priceless", a política de defesa não está sujeita a uma análise estrita de custo benefício, porque o que está em causa é a segurança, e a opinião pública não aceitaria decisões tomadas apenas por esse tipo de critério.
As preferências pessoais, ou mais genericamente, o que é válido do ponto de vista individual, nem sempre pode ser extrapolado para obter preferências colectivas. Aplica-se aqui o conceito de falácia da composição.
“In 1951, Kenneth Arrow proved that the results of democratic decision making cannot be reproduced by a mathematical formula. This crucial result, known as “Arrow's Impossibility Theorem”, derailed earlier attempts by economists to represent society's choices by a “social welfare function” - a quantitative description of what society supposedly prefers. Arrow's proof has not been refuted, tough it may have been forgotten, in the rush to apply cost-benefit analysis”

Existem outros critérios, como por exemplo, a contribuição da ciência e a participação pública através do sufrágio universal (por exemplo, referendos) ou de sondagens onde cada opinião tem o mesmo valor, e não com o tipo de inquéritos típicos da ACB, como a "contingent valuation".

No entanto, os autores de “Priceless” não rejeitam totalmente as ferramentas da ACB.

"Much of the information used in an atomistic analysis would also be relevant in what we call the holistic approach, where costs as a whole (usually monetary) and benefits as a whole (often largely nonmonetary) are considered together – but are not forced to be expressed in the same units.”

O confronto entre escolhas do tipo: "imaginemos que há um medicamento que salva a vida de alguém e custa 1000€. Todos concordamos nisso. E se custar 1 milhão de euros?”, é típico. Recorre-se a casos extremos para fugir a uma análise mais fina.

«To say that life, health, and nature are priceless is not to say that we should spend an infinite amount of money to protect them.Rather, it is to say that translating life, health and nature into dollars is not a fruitful way of deciding how much protection to give to them»

Em muitos casos, o confronto é entre algo vital e algo fútil (ler exemplo do “phoneslaughter”). Andar de automóvel para tudo e para nada ou usar aquecimento em exagero para obter um conforto total é uma futilidade comparado com as consequências que advêm do “Pico Petrolifero” ou das Alterações Climáticas. No entanto, interesses instalados bloqueiam mudanças de comportamentos invocando frequentemente ACB.

O argumento do mercedes vs corsa. É verdade que as pessoas aceitam riscos, mas normalmente são riscos que elas podem controlar (as pessoas conhecem os riscos do tabaco, mas podem decidir deixar de fumar). O psicólogo Paul Slovic concluiu que as pessoas receiam mais os riscos associados ao desconhecido. Estes riscos estão frequentemente associados a problemas de saúde pública e ambientais.

Finalmente, a taxa de desconto.

«Porque de cada 1€ que podemos produzir, podemos reinvesti-lo e torná-lo em 1.1€ no futuro».

Esta afirmação implica uma série de pressupostos que confundem finanças com economia. Pressupõe que os recursos, a tecnologia, etc., são ilimitados, com poderes de ressuscitação! Mais uma vez, o que pode ser válido para uma situação particular não é generalizável a toda a sociedade. É razoável um indíviduo avaliar os “trade-offs” entre o presente e o futuro próximo. No entanto, a taxa de desconto é um instrumento originário do cálculo financeiro e está associado ao facto dos valores monetários sofrerem uma desvalorização como consequência da inflação. Frequentemente confunde-se a “riqueza” monetária com a real. Mas nem todas as coisas se desvalorizam com o tempo, bem pelo contrário.
Aqui aplica-se outro tipo de falácia designada por "fallacy of misplaced concreteness".
Como refere Daly: «[...]since abstract exchange value flows in a circle, so do physical commodities constituting real GNP. Or, since money in the bank can grow forever at compound interest rates, so can real wealth, and so can welfare»

Por outro lado, é necessário ter em conta que algumas mudanças são irreversíveis, se não agirmos preventivamente em tempo útil. Quando estamos a falar de acções que têm impacto inter-geracional, a aplicação da taxa de desconto não é legítima:

“No one individual will experience both the beginning and the end of the transaction; no one is able to make the personal judgment that the trade-off is, or is not, worthwhile”

Estes são temas complexos que não podem ser plenamente abordados em meia dúzia de linhas. Este tema da taxa de desconto merece, por si só, um "post".
Aqui podem ler mais sobre a polémica.
Ler mais...

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Priceless - nem tudo tem um preço!




Em "Priceless - On Knowing the Price of Everything and the Value of Nothing" [Pode ler-se 1º capítulo online] (ver recensões aqui e da controversa escolha de Obama, Cass Sunstein, aqui) percebemos mais claramente o porquê de se chamar à Economia a "ciência lúgubre". Instalou-se um pouco por todo o lado uma corrente de opinião defensora da ideia de que o mercado resolve tudo e é sempre mais eficaz do que a intervenção das "burocracias" governamentais. Sob a capa da objectividade científica - utilizando um método de análise denominado Análise Custo-Benefício (ACB) - promoveu uma agenda anti-regulamentação e pró-privatização dos serviços e bens públicos.

«cost-benefit analysis promotes a deregulatory agenda under the cover of scientific objectivity.» pág. 9

A ideia subjacente é que as regulamentações custam dinheiro às entidades reguladas e, portanto, estas tratam de evitá-las, financiando generosamente universidades e centros de investigação que provem que os regulamentos têm sempre - ou em regra - mais custos que benefícios.

Os EUA foram um dos países que levaram mais longe a aplicação sistemática da ACB à avaliação do impacto da legislação em matéria de protecção ambiental, de saúde pública e no local de trabalho.

À partida poderiamos pensar ser natural avaliar os custos de implementação de um determinado regulamento, por exemplo, tornar obrigatório o fim da utilização de chumbo na gasolina ou reduzir os níveis de arsénico na água. O problema é determinar os benefícios.
O que a ACB faz é comparar dois números. Sucede que, valores como a vida, a natureza, a saúde, não têm preço. Isto pode parecer um lugar-comum. Mas se atentarmos nestes exemplos, ficamos com uma ideia mais aproximada do que está em causa.
Vejamos um exemplo referido no livro: o chumbo na gasolina. Desde sempre se soube dos seus efeitos nefastos. Após muitas décadas descobriu-se que implicavam danos sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças e o chumbo foi banido pela EPA (Agência de Protecção do Ambiente dos EUA). No entanto, esta decisão foi contestada por analistas - por ex. Randall Lutter (na altura ligado ao American Enterprise Institute) com base em considerações (adoptadas também pela própria EPA) do tipo: na realidade os danos do envenenamento por chumbo não são assim tão maus porque vendo bem as coisas quanto vale um ponto do QI de um indivíduo (foi avaliado até 8.346 dólares pela EPA e até um mínimo de 1.100$ pelos tais analistas), ou seja, que repercussão terá a redução das capacidades cognitivas das crianças nos seus rendimentos (em termos monetários) futuros ? Quanto tempo (e tempo é dinheiro!) gastam os pais para tratar dos filhos envenenados, etc.. Por incrível que possa parecer, os benefícios da eliminação do envenamento por chumbo são "medidos" desta forma. E este é apenas um dos muitos exemplos citados.

O problema é que este tipo de análise é enviesado à partida porque reduz sistematicamente o leque dos potenciais benefícios:

«Because important categories of benefits are priceless, cost-benefit analysis in practice frequently turns out to be "complete cost - incomplete benefit analysis". [...] The new conventional wisdom assumes that the priceless is worthless"
Um outro exemplo: num relatório para o Congresso dos EUA, a OMB, estimava que os custos de uma proposta para a protecção das florestas era de 180 milhões de dólares e que os benefícios seriam de apenas 219.000$/ano. De que resultavam estes benefícios? Resultavam da não construção de estradas! Ou seja, se as florestas fossem protegidas, poupar-se-ia na construção de estradas necessárias a sua exploração comercial. Ou seja, nenhuma consideração sobre o valor dos serviços prestados pelas florestas no seu estado natural, da biodiversidade, pela simples razão de que não têm preço. Mas nem por isso deixam de ter valor:

«The basic problem with narrow economic analysis of health and environmental protection is that human life, health and nature cannot be described meaningfully in monetary terms; they are priceless. When the question is whether to allow one person to hurt another, or to destroy a natural resource; when a life or a landscape cannot be replaced; when harms stretch out over decades or even generations; when outcomes are uncertain ; when risks are shared or resources are used in common; when the people "buying" harms have no relationship with the people actually harmed - then we are in the realm of the priceless, where market values tell us little about the social values at stake» pág 8-9

Uma das metodologias usadas neste tipo de análise é a taxa de desconto, usualmente utilizada em cálculo financeiro. A taxa de desconto tem o condão de desvalorizar o futuro!
Na tentativa de determinar os benefícios de uma determinada política pública sobre questões de saúde, procura-se determinar quantos anos de vida se ganham. O problema é quando se confunde anos de vida com valores monetários e se deduz que um ano de vida daqui a 40 anos é equivalente a apenas alguns dias hoje! Este tipo de raciocínio é algo hermético e congeminado de forma discreta, embora corrente, salvo quando passa para o domínio público, como sucedeu com este caso, para indignação dos idosos (ver aqui).
Não admira portanto que tanto se despreze - em alguns círculos influentes - o impacto que poderá advir a médio e longo prazo, por ex., da introdução de OGM's ou das Alterações Climáticas.
Ler mais...

terça-feira, janeiro 20, 2009

"Beyond Growth" - Para Além do Crescimento


Este livro (ver índice) de Herman E. Daly confronta a teoria económica dominante, seja ela neoliberal ou keynesiana, com uma enorme contradição. O paradigma económico dominante ou "mainstream" concebeu a economia - a macroeconomia - como um sistema isolado: as famílias forneciam o trabalho e o capital e empresas produziam bens e serviços. O objectivo primordial era elevar a produção e ficarmos todos ricos!
No início da Revolução Industrial isto poderia ser considerado normal. A exclusão do macro sistema - a natureza -, em que se insere o subsistema da economia humana, dos considerandos sobre os limites do crescimento económico não é hoje aceitável nem compreensível. Alguns avanços na microeconomia - internalização das externalidades, p.ex.- no domínio da economia do ambiente não são de modo algum suficientes.

O crescimento da população humana e da economia mundial assumiram uma dimensão que coloca em risco o equílibrio da Natureza que fornece a base fundamental sobre a qual assentam as duas primeiras.
É da Natureza que a economia humana retira recursos fundamentais, renováveis e não renováveis, e onde despeja os resíduos que produz (poluição).
Deste modo, Daly salienta a importância de conceitos oriundos da física e da biologia para uma melhor compreensão dos desafios colocados ao tão badalado, mas levado pouco a sério, Desenvolvimento Sustentável.
A compreensão das 1ª e 2ª(entropia) Leis da Termodinâmica, a Capacidade de Suporte Ecológico , os limites biofísicos ao crescimento, o "fluxo metabólico de materiais e energia" ou "throughput", são essenciais para compreender que, por muito que a tecnologia progrida, os limites ao crescimento económico não desaparecem, podem até acentuar-se.
Isto conduz Daly a propor - na sequência do que Stuart Mill já sugerira no Séc. XIX - aquilo a que designa por "Steady-State Economy"ou "Economia Estável".
Uma economia deste tipo centra-se no desenvolvimento e não no crescimento, é uma economia do complexo, do melhor e não do mais; é uma economia que tem como preocupação fundamental determinar a escala da sua actividade de modo a ser compatível com os ritmos de regeneração dos recursos e absorção dos resíduos pela Natureza.
Daly fornece algumas sugestões para operacionalizar (ver Center for the Advancement of the Steady State Economy) uma economia deste tipo, revelando os absurdos dos métodos actuais. Um primeiro alvo é a elaboração das Contas Nacionais (a medição do Produto - PIB). Este é a soma de todos os valores acrescentados pela actividade económica humana. No entanto, o valor criado pela Natureza - aquilo sobre o que é acrescentado valor pelo Homem - é praticamente ignorado. Tanto assim, que as Contas Nacionais ignoram a destruição de capital natural - ao contrário do que acontece, p. ex., com a depreciação dos equipamentos cujo valor é abatido ao valor total produzido.
Enfim, Daly está consciente da autêntica revolução cultural, filosófica, ética, e até religiosa, exigida para tal alteração. Como técnico do Banco Mundial teve a oportunidade de confrontar a entrincheirada ideologia do crescimento económico.
Uma objecção frequente - normalmente proferida pelos que já têm mais do que suficiente - é de que o crescimento económico continua a ser necessário para combater a pobreza. Daly discorda, insistindo que só uma distribuição mais equilibrada e justa pode ser a solução. Mais crescimento, só aumentará a entropia do sistema - mais desordem - e, portanto, acabará por agravar ao invés de resolver o problema. Daly avança com o Princípio da Desigualdade Limitada, que introduz a noção de salário ou rendimento máximo, que Daly sugere poderia ser de 1 para 10 para o caso dos EUA, embora admita flexibilidade nesta proporção.
Muito mais há a dizer sobre este livro, fundamental para uma outra economia, nestes tempos de crise ambiental - e financeira - em crescendo. Este ponto, da crise financeira - embora não desta que estamos a viver (o livro é de 1996) também é abordado. Aqui, a diferança entre o brutal aumento de dívida (emissão de moeda) e a finitude da riqueza (material) é salientada como uma contradição que também vai contra a parede dos limites biofísicos da Terra.
Ler mais...

domingo, janeiro 18, 2009

Um impostor de nome Bjorn Lomborg



Bjorn Lomborg é um dos expoentes máximos do movimento conservador anti-regulação em matéria de protecção contra riscos colocados à saúde e ao ambiente. Este movimento atingiu o cume com a chegada de George W. Bush à presidência dos EUA. Caracteriza-se por se dedicar, sobretudo através de "think tanks" (mas também, como no caso dos EUA, por intermédio de agências governamentais algo obscuras, embora influentes) , à análise custo-benefício das políticas públicas em matéria de regulamentação das actividades que afectam o ambiente, a saúde, as condições de trabalho, etc.

Lomborg é docente de estatística da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, sendo a sua formação em ciência política. Invocando um pretenso passado de ambientalista de esquerda e de membro da Greenpeace, tornou-se famoso - com a ajuda, entre outros, do governo conservador dinamarquês através do Centro Consenso de Copenhaga e da revista The Economist (João Carlos Espada chegou praticamente a plagiar para o Expresso um artigo saído no Economist a dar grande destaque a este livro - a ideia era: vide, eis um verde - vegetariano e tudo - que reconhece que os ambientalistas são todos uns histéricos e até fornece um montão de números para prová-lo) - com a publicação do livro "O Ambientalista Céptico". Por cá, os seus artigos no Project Syndicate , têm tradução no Jornal de Negócios.

Neste livro, Lomborg dedica-se a desvalorizar os problemas ambientais, recorrendo a análises e interpretações enviesadas e a informação truncada (a que dá jeito aos seus fins), e a uma série de truques. Este livro foi objecto de queixas por cientistas dinamarqueses à Comissão de Verdade Científica de que resultou esta esclarecedora avaliação sobre a (pouca ou nenhuma) seriedade da análise de Lomborg. O livro (não o autor, por razões formais) foi acusado de desonestidade científica. Cientistas de renome: Stephen Schneider (ver tb aqui e aqui para ver de quem se trata), John P. Holdren (recém-nomeado conselheiro científico de Obama), Thomas Lovejoy, Stuart Pimm, E.O. Wilson [este designa esta obra como "The Lomborg Scam"], etc. (ver ainda aqui) pronunciaram-se sobre os temas em que são especialistas - desde a energia à biodiversidade, da demografia às alterações climáticas - abordados por Lomborg nesse livro, demonstrando a ignorância deste último. Se a ignorância fosse inocente, poderíamos desculpá-la, mas quem conheça Lomborg apercebe-se da sua arrogância ao querer determinar quem devemos ouvir e levar a sério e quem devemos ignorar, quando ele próprio não tem a mínima autoridade para sequer sugerir tais recomendações.
No entanto, Lomborg continua a ter muita audiência, a ponto de a revista Times o ter designado como uma das 100 pessoas mais influentes de 2004 - o que é deveras incrível e preocupante. Por outro lado, este sucesso pode explicar-se. Bjorn Lomborg é sem dúvida inteligente e bom em relações públicas. Os que o acusam de conservador têm como resposta de alguns: ah, mas o homem é "gay" e vegetariano, como se isso tivesse relevância para o caso.
Um dos temas favoritos de Lomborg são as alterações climáticas. Segundo ele, existe uma obsessão com as alterações climáticas, que não são grande problema, apesar dos alertas do IPCC. O futuro é quase totalmente desvalorizado através de outra técnica muito comum: a taxa de desconto .

A este propósito ver também artigo no RealClimate sobre análise de Lomborg.
O seu mais recente livro "Cool It" é dedicado a explicar-nos porque não devemos dar grande importância às alterações climáticas.
Numa primeira análise desprevenida, o raciocínio de Lomborg parece lógico e sedutor (ver vídeo), no entanto peca por ser linear e redutor, recorrendo ao aparente rigor dos números e de técnicas convencionais da análise económica.
Como é muito bem explicado em "Priceless - On Knowing the Price of Everything and the Value of Nothing" (aqui, uma recensão), a utilização sistemática da Análise Custo - Benefício para avaliar as políticas públicas tem problemas intrínsecos graves, mesmo quando realizadas de boa-fé. Um deles tem que ver com a relativa facilidade em determinar os custos e a enorme dificuldade em determinar os benefícios, pelas simples razão de que estes não podem ser mensurados na sua complexidade, não têm preço. Qual o preço de uma vida, quanto nos custa a extinção de uma espécie, quais os custos de uma alteração climática irreversível? Não há respostas definitivas para estas questões, que possam ser vertidas num número.

«Because important categories of benefits are priceless, cost-benefit analysis in practice frequently turns out to be "complete cost - incomplete benefit analysis". [...] The new conventional wisdom assumes that the priceless is worthless" in Priceless (2004) Frank Ackerman & Lisa Heinzerling

Nesta análise de "Cool It", Frank Ackerman expõe muito bem as insuficiências deste tipo de abordagem que caracterizam sistematicamente as posições defendidas por Lomborg.
A impostura que caracteriza o discurso de Lomborg é perigosa e deve ser denunciada, e este tipo de análise atirada ao lixo.
P.S. ver este debate entre Lomborg e Bill Mckibben .
Ler mais...